Wicked se divide em dois filmes, acerto da adaptação da obra

A divisão de “Wicked” em dois filmes é justificada pelo sucesso em bilheteria e pela necessidade de desenvolver a relação entre Elphaba e Glinda. Entenda os motivos.

A decisão de dividir a adaptação cinematográfica de Wicked, dirigida por Jon M. Chu, em dois filmes gerou debates desde o seu anúncio. Essa estratégia remete à tendência de Hollywood de partir finais de livros em duas partes, iniciada com Harry Potter, e que se tornou lucrativa para franquias.

Inicialmente, questionou-se a necessidade de dedicar seis horas de tela para um musical que, no palco, tem duração inferior a três horas, incluindo o intervalo. Havia preocupação em separar o primeiro ato, com as músicas mais aclamadas e o encerramento com a canção mais conhecida do musical, do segundo ato.

Apesar das críticas iniciais, Wicked: Parte Um conseguiu dissipar dúvidas. Recebido positivamente por crítica e público, o filme alcançou sucesso nas bilheterias e dez indicações ao Oscar de 2025, empatando em segundo lugar com outros filmes. Isso levou muitos a especular que Chu faria adaptações mais ousadas na segunda metade para solucionar as fraquezas historicamente associadas a ela.

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Análise da divisão de Wicked

Glinda em seu traje de Glinda A Boa, olhando para cima com uma expressão preocupada em Wicked For Good
Glinda, interpretada por Ariana Grande, em uma cena de Wicked: For Good.

Agora com o lançamento de Wicked: For Good, o debate foi reavivado. A recepção crítica para esta segunda parte é inferior à do antecessor: 71% no Rotten Tomatoes e 58 no Metacritic, contra 88% e 73, respectivamente, de Wicked. Embora com novas canções e momentos na história, o filme se mantém amplamente fiel ao material original, com suas virtudes e falhas.

Para muitos, a resposta sobre a divisão da obra em dois filmes é um claro sim, mesmo com espaço para críticas. A Universal Pictures parece satisfeita com a decisão. O primeiro Wicked foi um sucesso de bilheteria, especialmente nos Estados Unidos, onde tanto o musical quanto O Mágico de Oz possuem forte impacto cultural.

Dados indicam que Wicked: For Good abriu com desempenho ainda mais forte, registrando $150 milhões domésticos e $226 milhões globais, superando os $112 milhões domésticos e $164 milhões globais do primeiro filme. A expectativa é que o boca a boca positivo, reforçado pelo CinemaScore A, mantenha o desempenho, dobrando a arrecadação total com a estratégia de lançamento dividido.

O equilíbrio entre arte e comércio

É importante não confundir necessidades comerciais com as artísticas. Críticos de Wicked argumentam que os cineastas priorizaram o primeiro aspecto em detrimento do segundo, e há mérito nessa visão. É inegável que Wicked poderia ter sido adaptado em um único filme coeso, com as devidas alterações. Admiram-se as adaptações corajosas que usam o material de origem como inspiração, em vez de uma receita a ser seguida rigidamente.

Contudo, a extensão de tempo adicional foi fundamental para construir a relação entre Elphaba e Glinda, elemento crucial da obra. A conexão entre as personagens, expressa pela intensidade com que Cynthia Erivo e Ariana Grande a interpretam, é o maior trunfo de Wicked. A separação prolongada no segundo ato do musical é uma de suas fraquezas, e a divisão em dois filmes busca evitar que isso dilua o fio condutor que torna a segunda metade da história significativa.

O impacto cultural dos eventos cinematográficos

O lugar dos filmes na cultura mainstream está em constante mudança. Em um cenário onde atrair público para os cinemas é cada vez mais desafiador, Hollywood reconhece a necessidade de transformar suas grandes produções em “eventos” para se destacarem. O fenômeno “Barbenheimer” demonstrou que, no fim, o público decide o que é um evento.

Mesmo com propriedade intelectual estabelecida, os espectadores podem rejeitar produções se perceberem algo “fora do lugar”. A estratégia de dividir o lançamento é arriscada, pois o público pode optar por esperar ambas as partes estarem disponíveis em streaming. Por isso, os estúdios tentam disfarçar essa divisão em materiais promocionais.

No entanto, o resultado é diferente de simplesmente criar um filme de sucesso e depois desenvolver uma sequência. Se o público gostar e espalhar a palavra, ele se tornará investido na conclusão desta história. Quando a Parte Dois chegar, será um verdadeiro momento cultural.

Diretores como Jon M. Chu e Denis Villeneuve (de Dune) admitiram que seus primeiros filmes eram apenas metade da história. Mesmo com trailers que omitiam informações, muitos espectadores só descobriam isso na sala de cinema. Ainda assim, ambos os filmes conseguiram o feito.

Os filmes ocupam um espaço cultural entre o artístico e o comercial. Essa intersecção torna a existência de Wicked: For Good menos cínica. É verdade que, como um único filme, Wicked não teria alcançado o mesmo patamar de bilheteria. Contudo, também não teria a mesma magnitude, e a indústria cinematográfica precisa de grandes produções para manter a relevância da experiência de ir ao cinema.

Fonte: ScreenRant

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