Nos últimos anos, a escassez de lançamentos de comédias de grande porte tem sido notável, especialmente nos cinemas.
Enquanto sequências de legado, como a de “Corra Que a Polícia Vem Aí”, tentam revigorar o gênero, as comédias têm estado sub-representadas. Isso se deve, possivelmente, à falta de ideias convincentes dos estúdios ou à mudança no modelo de produção impulsionada pelos serviços de streaming.
Em meio a esse cenário, uma joia cômica lançada nos cinemas passou quase despercebida: Theater Camp, uma obra de Molly Gordon e Nick Lieberman que merece muito mais amor do público.
Estreando no prestigiado Festival de Sundance, o filme teve um lançamento teatral discreto, arrecadando apenas US$ 4 milhões globalmente.
A falta de marketing da Searchlight Pictures pode ter sugerido que o filme não era nada especial, mas ele se firmou como uma das comédias mais fortes e originais dos últimos anos.
Theater Camp é uma hilária comédia de verão que, com grande carinho, satiriza a cultura dos “theater kids” ao mesmo tempo em que celebra a paixão e a alegria que o teatro pode proporcionar.
Do talento de suas crianças-atores às suas peculiaridades de estilo de filmagem, o filme é um deleite merecedor de reconhecimento amplo.
É o tipo de produção que te faz rir alto, mas também te lembra da magia por trás dos palcos.
Um dos elementos mais notáveis de Theater Camp é sua abordagem visual.
Embora conte uma história ficcional, o filme emprega um estilo “mockumentary” (falso documentário) para narrar a trama de um acampamento de teatro que luta para não fechar as portas.
Essa escolha não apenas gera sequências incrivelmente engraçadas, mas também contribui para a tese central do filme: desvendar o amor pelo teatro ao espectador.
A câmera te coloca dentro da sala com os personagens, muitas vezes sendo até “vigilante” demais, o que resulta em gags hilárias.
O filme não tem medo de expor o estresse e os aborrecimentos do universo teatral – de cenários quebrados a atores que desistem de seus papéis momentos antes do show –, mas sempre reforça que a alegria da criação artística compensa todos os problemas.
A estrutura narrativa, embora não seja revolucionária, funciona perfeitamente para o que Theater Camp se propõe a ser.
Acompanhando um acampamento que precisa arrecadar dinheiro para se manter, o filme repete elementos de tramas como “Com a Bola Toda” (Dodgeball: A True Underdog Story), mas se destaca por sua autenticidade e humor peculiar.
Embora o espectador possa antecipar a direção da história, a jornada é, sem dúvida, o que realmente vale a pena.
Além disso, Theater Camp apresenta algumas das melhores atuações infantis dos últimos anos.
Obter performances convincentes de crianças, e dirigi-las, é uma tarefa árdua para qualquer cineasta, mas a equipe por trás de Theater Camp faz um trabalho quase impecável.
Donovan Colan e Kyndra Sanchez são os destaques absolutos. O conflito interno de Colan é expresso lindamente em sua atuação, enquanto o amor de Sanchez pelas artes pulsa em cada número musical.
É preciso um talento notável para interpretar papéis como os deles, e o fato de que jovens crianças conseguiram entregá-los é extremamente impressionante.
Ben Platt e Molly Gordon brilham como os dois protagonistas.
Tendo participado de produções teatrais desde a infância – e o filme inclusive exibe imagens reais dos dois atuando juntos –, Platt e Gordon infundem suas experiências de vida em seus personagens, dando-lhes uma profundidade notável.
Embora o conflito sobre suas carreiras pudesse ter sido mais intenso, a química natural e a paixão pelos papéis tornam seus personagens sempre cativantes.
O elenco de apoio, com os conselheiros do acampamento, também entrega atuações memoráveis.
Noah Galvin interpreta o “pau para toda obra” que se revela uma estrela do teatro com perfeição, adicionando uma autoconsciência cômica com seu senso de humor monótono.
Ayo Edibiri, apesar de um papel menor, está fantástica como a conselheira que mente na entrevista para conseguir o emprego. Suas dificuldades em ensinar uma turma de crianças de teatro geram muitas das sequências mais marcantes do filme, elevando a comédia a novos patamares com seu uso de tom e dicção.
Essa performance se destaca de outros trabalhos dela, como em “As Tartarugas Ninja: Caos Mutante”, mostrando sua vasta gama como atriz. Você pode conferir outras notícias de Cultura Pop aqui no site!
Theater Camp pode não estar revolucionando o gênero de comédia, mas suas cenas constantemente hilárias e seu amor genuíno pelo teatro o tornam uma experiência gratificante do início ao fim.
Contando com um grupo de jovens atores que certamente serão as próximas grandes estrelas desta geração, este é um filme que merece muito mais carinho e reconhecimento do que recebeu.
Assim como os atores em uma peça, esta produção merece seus aplausos.
E a boa notícia é que Theater Camp está disponível para streaming no Hulu.