Scarlet, o mais recente filme de animação de Mamoru Hosoda, diretor aclamado por obras como Belle e The Girl Leapt Through Time, chega como uma releitura de Hamlet. Na trama, o protagonista Scarlet morre após não conseguir se vingar e, ao lutar por uma nova chance, questiona seus próprios métodos de vida.






Um Espetáculo Visual com Ressalvas
Apesar de sua estreia comercial em larga escala no Ocidente estar prevista apenas para o início de 2026, Scarlet teve exibições em festivais em 2025, visando a qualificação para premiações. Para os que tiveram a oportunidade de assistir antecipadamente, fica claro que se trata de mais uma obra visualmente deslumbrante de Hosoda, embora o roteiro não acompanhe o mesmo nível de excelência.
Inicialmente, os trailers geraram ceticismo devido ao uso predominante da animação 3D. No entanto, o resultado final supera as expectativas. A tecnologia 3D é utilizada para criar visuais complexos e impressionantes, que seriam desafiadores em animação tradicional, resultando em algumas das melhores animações CG recentes no mundo do anime.
O principal ponto de atrito surge na coexistência entre o 3D e a animação 2D. Embora a intenção pareça ser usar o 3D para contrastar com a Terra e enfatizar o surrealismo, a aplicação é inconsistente, chegando a misturar os dois estilos em uma mesma cena. A animação 2D, inegavelmente superior, levanta a questão sobre a real necessidade do 3D em grande parte da produção, excetuando-se algumas cenas com dragões e cenários.
Personagens: Força e Fraqueza em Scarlet
O elenco de Scarlet é um dos pilares da narrativa, mas também um de seus pontos fracos. Os personagens inspirados em Hamlet funcionam bem, com um Claudius deliciosamente vilanesco. Scarlet, a protagonista, é envolvente, apresentando uma jornada de superação de traumas e busca por um eu melhor.
Entretanto, a personagem é construída como uma guerreira movida por vingança, similar a figuras como Batman ou o Justiceiro, mas raramente demonstra essa força em combate, frequentemente necessitando de resgate. Essa falta de agência a torna menos impactante, contrastando com as heroínas usualmente fortes criadas por Hosoda.
A situação se agrava com o coadjuvante Hijiri. Sua constante repreensão à violência, em vez de servir como consciência para Scarlet, soa pregação. Embora o roteiro utilize essa característica de forma inteligente no clímax, isso não compensa a fragilidade da dinâmica entre os dois, que, apesar de terem mais tempo de tela e desenvolvimento, muitas vezes falham ao interagir, contribuindo para a sensação de desunião do filme.
Temas Recorrentes e Execução Falha
Se algo prejudica Scarlet, são seus temas ambíguos e a execução pouco eficaz. A história explora a clássica jornada do herói que não se deixa consumir pela vingança. Momentos como o choro de Scarlet ao perceber uma vida mais feliz e a resolução de seu conflito com Claudius ressaltam essa mensagem.
Contudo, o entorno desses momentos é problemático. A presença de Hijiri sugere uma forte mensagem pacifista, mas o filme retrata o combate como inerentemente ruim, mesmo quando a luta pela sobrevivência se torna necessária. Essa inconsistência, somada à inexperiência de Scarlet em combate, enfraquece o argumento de que ela está sendo consumida pela vingança.
Histórias de vingança, embora recorrentes, podem ser eficazes se o motivo da mudança do herói for claro e a jornada envolvente. Infelizmente, Scarlet falha em entregar o entretenimento necessário, tornando a experiência tediosa, mesmo com um desfecho catártico.
A Obra de Hosoda Merece Ser Vista, Apesar das Falhas
À primeira vista, Scarlet apresenta mais obstáculos do que qualidades. A beleza visual contrasta com personagens inconsistentes e uma narrativa fraca, podendo entediar até mesmo fãs dedicados de Mamoru Hosoda. Ainda assim, a profundidade emocional em seus momentos de acerto e a sinceridade em explorar temas complexos garantem um certo engajamento.
Diferente de produções como Demon Slayer: Infinity Castle ou Chainsaw Man: The Movie — Reze Arc, Scarlet pode não revolucionar a indústria, mas oferece uma experiência genuinamente sincera e com potencial de entretenimento, mesmo com suas imperfeições.
Fonte: ComicBook.com