No universo das séries de televisão, uma boa reviravolta de roteiro pode elevar uma história de boa a lendária, como o memorável “Casamento Vermelho” de Game of Thrones ou a icônica frase de Walter White, “Eu sou o perigo”. No entanto, para cada momento chocante que nos deixa boquiabertos, existem dezenas de outros que os fãs conseguem prever com temporadas ou até mesmo episódios de antecedência. Seja por um prenúncio excessivamente óbvio, escolhas de elenco que entregam demais, ou roteiristas seguindo a trilha de migalhas mais previsível possível, algumas reviravoltas em séries de TV simplesmente não atingem o impacto desejado.
A era da internet, com suas comunidades de fãs e teorias elaboradas, certamente não facilita a vida dos roteiristas que buscam surpreender o público. Contudo, alguns programas parecem fazer pouco ou nenhum esforço para manter o segredo. Desde ressurreições supostamente “chocantes” de personagens queridos até a inclusão repentina e sem sentido de membros da família com poderes exagerados no final, a lista de “plot twists” que caíram no vazio é extensa e, muitas vezes, frustrante para quem acompanha a narrativa com atenção.
Um dos exemplos mais notórios de reviravoltas previsíveis veio de Game of Thrones com a ressurreição de Jon Snow. Quando Jon Snow (Kit Harington) morreu no final da quinta temporada, os fãs mal se abalaram. A certeza de seu retorno era quase palpável, e a HBO manter Harington na turnê de imprensa só reforçou a percepção de uma farsa calculada.
A chegada de Melisandre (Carice Van Houten) à Patrulha da Noite pouco antes de sua “morte” praticamente entregou o enredo. A sexta temporada, dedicando episódios inteiros ao cadáver de Jon, apenas confirmou a enrolação para um efeito dramático que, ao final, resultou em um retorno recebido com um bocejo coletivo. A verdadeira surpresa, paradoxalmente, teria sido se ele tivesse permanecido morto.
Outra reviravolta que gerou mais confusão do que choque foi a revelação de Dan Humphrey (Penn Badgley) como Gossip Girl. Longe de ser um momento de “aha. ”, a conclusão foi, para muitos, um insulto à inteligência dos espectadores.
A identidade de Dan não apenas contradizia abertamente suas ações e diálogos ao longo da série, mas também cenas em que ele estava sozinho e claramente não tinha conhecimento dos segredos de Gossip Girl. Embora a teoria de Dan circulasse entre os fãs por anos, ela era geralmente descartada por ser ilógica. A escolha da produção pareceu focar mais no valor de choque do que na coesão narrativa, deixando a sensação de uma “jogada desesperada de última hora” em vez de um desfecho merecido.
Nem todas as reviravoltas previsíveis são mal executadas, como demonstra o caso de “The Good Place era The Bad Place”. Embora o público mais atento já desconfiasse desde o primeiro episódio — com a obsessão por iogurte congelado, a censura bizarra de palavrões e a estética excessivamente ensolarada — a reviravolta de que os personagens estavam no Lugar Ruim desde o início funcionou como uma confirmação brilhante. Detetives do Reddit e fãs com olhos de águia pegaram as pistas sutis, tornando a revelação mais uma validação de suas teorias do que um choque.
Ainda assim, foi uma reviravolta rara que, mesmo sendo prevista por alguns, se manteve divertida e inteligentemente construída. Game of Thrones, infelizmente, garantiu uma segunda entrada nesta lista com a coroação de Bran “o Quebrado”. A notícia de que Bran (Isaac Hempstead Wright) seria o rei de Westeros foi recebida com um misto de perplexidade e frustração.
Após passar temporadas inteiras misteriosamente ausente e com um arco de “Corvo de Três Olhos” que o tornava um dos personagens menos envolventes emocionalmente, sua ascensão ao trono pareceu surgir do nada, sem construção prévia ou recompensa temática. Se os roteiristas tivessem plantado essas sementes antes, falharam miseravelmente. Para muitos, a escolha soou como um nome tirado de um chapéu, mais uma tentativa frustrada de subverter expectativas do que um desfecho orgânico.
Por fim, o final de How I Met Your Mother figura entre os mais odiados da história da TV, e sua reviravolta final foi amplamente antecipada. A premissa da série girava em torno do mistério da mãe titular. Quando Tracy (Cristin Milioti) finalmente apareceu, ela era tudo o que os fãs esperavam: inteligente, engraçada, calorosa.
Matá-la para que Ted (Josh Radnor) pudesse terminar com Robin (Cobie Smulders) foi um choque, mas não no sentido que os criadores esperavam. A constante conexão entre Ted e Robin, o recorrente “trocadilho” da trompa francesa azul e a forma como a narrativa sempre puxava Robin para o centro das atenções — mesmo quando já não fazia sentido — fizeram com que os fãs vissem o desfecho se aproximando. A reação dos filhos, que reviraram os olhos e admitiram saber que a história era sobre Robin desde o início, espelhou a frustração de uma base de fãs que se sentiu enganada após nove temporadas.
Esses exemplos demonstram que, mesmo em um cenário onde a internet e as teorias dos fãs tornam a surpresa mais difícil, a previsibilidade excessiva pode prejudicar seriamente o impacto de uma reviravoltas em séries de TV. Um bom roteiro não apenas surpreende, mas também se sustenta na lógica interna da narrativa, garantindo que, mesmo que um elemento seja adivinhado, ele ainda faça sentido e ressoe emocionalmente com o público.