Os Filmes de Resident Evil: A Deturpação de Personagens Icônicos dos Jogos

Os Filmes de Resident Evil: A Deturpação de Personagens Icônicos dos Jogos

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A franquia cinematográfica de Resident Evil, especialmente a saga de seis filmes liderada por Paul W. S. Anderson, ocupa um lugar peculiar na história das adaptações de videogames.

Embora tenha sido um sucesso comercial estrondoso, arrecadando mais de um bilhão de dólares globalmente e tornando-se por um tempo a série de filmes baseada em videogames de maior bilheteria, para muitos fãs dos jogos originais de survival horror da Capcom, ela é uma fonte de frustração interminável. Os filmes notoriamente se desviaram do material original, priorizando a ação estilizada em detrimento do horror atmosférico e, o mais controverso, deixando de lado os amados protagonistas dos jogos em favor de uma nova heroína exclusiva para o cinema. Essa decisão criativa de centralizar a história em Alice, interpretada por Milla Jovovich, significou que, quando os personagens icônicos dos jogos finalmente apareceram, seus papéis foram drasticamente alterados.

Em vez de liderar a narrativa, favoritos dos fãs como Jill Valentine, Chris Redfield e Leon S. Kennedy foram reduzidos a coadjuvantes na jornada de Alice. Suas complexas histórias de fundo, arcos de personagem definidores e relacionamentos cruciais dos jogos foram frequentemente simplificados ou completamente ignorados.

Vilões perderam sua nuance, e heróis foram enfraquecidos para garantir que Alice permanecesse a figura central. Mesmo o reboot de 2021, *Resident Evil: Welcome to Raccoon City*, que buscou uma adaptação mais fiel, teve dificuldades para fazer justiça ao seu elenco, espremendo as tramas de dois jogos em um único filme. Como resultado, o legado cinematográfico de Resident Evil está repleto de personagens que foram, sem dúvida, arruinados por suas contrapartes na tela grande.

1) Carlos Oliveira

Na narrativa de *Resident Evil 3*, Carlos Oliveira é um personagem de profundidade surpreendente. Um mercenário da Umbrella cuja decência inata supera sua lealdade corporativa, ele começa como um soldado arrogante, mas através de sua parceria com Jill Valentine, ele se transforma em um herói genuíno, arriscando sua vida para navegar em um hospital infestado de zumbis em busca desesperada de uma vacina para salvá-la. Esse arco, de um homem que apenas seguia ordens para alguém que toma uma posição moral, confere-lhe uma substância que o torna um favorito dos fãs.

A franquia cinematográfica, após uma introdução razoável para Carlos (Oded Fehr) em *Resident Evil: Apocalypse*, sistematicamente demoliu essa integridade. Seu arco é imediatamente subvertido para servir Alice, e sua importância é atrelada exclusivamente à sobrevivência dela. O insulto final ao personagem chega quando ele recebe um sacrifício heroico em *Extinction*, apenas para a série trazê-lo de volta como uma série de clones sem mente em *Retribution*.

Essa transformação de um homem que encontrou sua honra em um momento de crise em bucha de canhão infinitamente descartável é uma traição completa ao apelo central de seu personagem. 2) Claire Redfield

O fracasso cinematográfico de Claire Redfield decorre de um total mal-entendido de suas origens. Em sua estreia nos videogames, Claire não é uma soldada ou uma sobrevivente endurecida, mas uma estudante universitária engenhosa em busca de seu irmão desaparecido, Chris.

Seu apelo vem de testemunhar uma pessoa comum se adaptar e lutar contra horrores impossíveis, sua força forjada em sua determinação de proteger os outros, especialmente a jovem Sherry Birkin. O público se conecta com ela porque a vê se tornar uma heroína em tempo real, sua coragem e empatia brilhando através do terror. Ambas as adaptações cinematográficas privam Claire dessa jornada essencial.

Os filmes de Anderson introduzem Claire (Ali Larter) como uma líder já estabelecida de um comboio armado no deserto, apresentando-a como um produto acabado sem passado. O reboot de 2021 adota uma abordagem diferente, mas igualmente falha, tornando Claire (Kaya Scodelario) uma teórica da conspiração paranoica impulsionada por um trauma de orfanato separado. Nenhuma das versões confia no público para se envolver com sua transformação, optando por uma figura pré-fabricada que compartilha pouco com o material original além de um nome e uma jaqueta vermelha.

3) Chris Redfield

Chris Redfield é um personagem construído sobre legado. Nos jogos, ele é um homem que carrega o peso de uma guerra vitalícia contra o bioterrorismo, desde suas experiências traumáticas na Mansão Spencer até suas missões globais com a BSAA. Sua história, sua intensa rivalidade com Albert Wesker e seu vínculo protetor com sua irmã Claire são os pilares que sustentam todo o seu personagem, tornando-o uma das figuras centrais da franquia, um homem que notoriamente socou uma rocha em um vulcão por pura força de vontade.

Os filmes apresentam uma versão de Chris (Wentworth Miller) sem legado algum. Introduzido em *Resident Evil: Afterlife*, trancado em uma cela de prisão, ele é imediatamente diminuído e tratado como uma relíquia esquecida. Além disso, sua épica rivalidade com Wesker é reduzida a uma única cena de luta sem peso, onde o diálogo é vazio porque os dois não compartilham história alguma.

A abordagem do reboot para Chris (Robbie Amell) é igualmente anêmica, retratando um soldado genérico completamente desvinculado de sua gravidade. Os filmes nos deram o uniforme, mas não o homem por trás dele.

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