O filme de terror O Segredo da Cabana (The Cabin in the Woods) é conhecido por sua abordagem inovadora e subversiva. Uma de suas genialidades é a forma como ele revela o desfecho apocalíptico logo nos primeiros dez minutos, sem levantar suspeitas em espectadores de primeira viagem.




Apesar de suas piadas e momentos de humor negro, o filme culmina em um final sombrio, com o surgimento de deuses antigos. O aspecto mais surpreendente, no entanto, não é o apocalipse em si, mas a tentativa de encontrar um lado positivo na destruição. Dana argumenta que ser devastado por divindades furiosas pode ser o que a humanidade precisa, antes de ser esmagada por uma mão incandescente.

Marty Previu o Fim de O Segredo da Cabana
Por volta dos oito minutos de filme, enquanto os adolescentes se dirigem à cabana, Marty (interpretado por Fran Kranz) faz um discurso sobre a vida moderna. Ele conclui com a frase: “A sociedade precisa desmoronar. Somos todos covardes demais para deixar isso acontecer.” Em um primeiro momento, essa premonição passa despercebida.
Apresentado com uma nuvem de fumaça e um bong, Marty é o estereótipo do “maconheiro de filme”. Suas teorias sobre microchips e vida “off-grid” parecem divagações sem sentido, encorajando a audiência a tratá-las como mero estabelecimento de personagem, e não como pistas cruciais para o final da história.

Ao rever o filme, o significado completo do discurso de Marty se torna claro. Os trabalhadores da instalação, liderados pela misteriosa Diretora (Sigourney Weaver), são os “covardes” que mantêm o status quo. A necessidade de mudança é exemplificada pelos rituais horrendos para apaziguar os deuses, um paralelo que Marty repete mais sóbrio no final: “Talvez seja assim que deveria ser se você tem que matar todos os meus amigos para sobreviver.”
O “desmoronamento” se prova literal, com os deuses insatisfeitos indicando pouca intenção de deixar o planeta intacto. Essencialmente, tudo o que Marty diz no início do filme se concretiza. São necessários dois indivíduos corajosos, Dana e Marty, para quebrar o ciclo de morte, aceitando o fim da sociedade na esperança de que algo melhor surja das cinzas.
O Segredo da Cabana Levanta Dúvidas Sobre o Ponto de Vista de Marty
Uma das curiosidades do filme é como os “vilões” apresentam um argumento convincente. Após Marty afirmar que um mundo que necessita de rituais é um mundo que precisa acabar, a Diretora aponta que a “mudança” esperada por ele envolveria a morte dolorosa de todos os seres vivos.
Mesmo Dana, após se resignar a passar seus últimos momentos ao lado de Marty, expressa dúvida: “Sinto muito por quase ter atirado em você. Provavelmente eu não teria”. O “provavelmente” revela que uma parte de Dana desejava ter atirado em Marty, salvado o mundo e vivido para ver outro dia.

O espectador fica a ponderar se os sacrifícios ritualísticos da instalação são preferíveis à alternativa apocalíptica. Dana sugere que a humanidade dê “uma chance a outra pessoa”, mas a próxima sociedade se rebelará contra seus opressores e recusará derramar sangue em tributo, ou a história se repetirá? Marty é um gênio de mente aberta, como ele mesmo afirma, ou apenas um idiota chapado? Essa é a questão incômoda que O Segredo da Cabana deixa em aberto.
Fonte: ScreenRant