A adaptação de O Retrato de Dorian Gray pela Netflix, um dos projetos mais aguardados, enfrenta críticas antes mesmo de seu lançamento. Uma mudança na narrativa principal gerou controvérsia e pode ter comprometido o potencial da série.
A literatura clássica é uma fonte rica para adaptações, permitindo que histórias sejam reimaginadas para o público contemporâneo. No entanto, certas alterações podem descaracterizar a obra original, especialmente quando elementos fundamentais são modificados.
A Netflix, ao adaptar O Retrato de Dorian Gray, parece ter ignorado essa premissa, alterando um aspecto crucial da trama que já causa descontentamento.
Netflix adapta “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde
O Retrato de Dorian Gray, único romance de Oscar Wilde, está sendo transformado em uma série pela Netflix. A obra gótica é um marco na literatura e sua adaptação para a TV gerou grande expectativa, especialmente por adaptações anteriores terem falhado em capturar a essência do livro.
Filmes como o de 1973 e 2009 foram criticados por desviar da trama original e introduzir elementos desnecessários. Mesmo a versão de 1945, apesar de aclamada, não atingiu a profundidade do romance.
A expectativa em torno da série da Netflix diminuiu consideravelmente após a divulgação da interpretação da roteirista Katie Rose Rogers. Uma mudança específica gerou polêmica e críticas, afetando a percepção da produção antes mesmo de sua estreia.
Netflix transforma Dorian Gray e Basil em irmãos
A adaptação da Netflix revelou que Dorian Gray e Basil serão irmãos na série. Essa alteração ignora a natureza da relação homoerótica entre os personagens, que é central para a obra de Oscar Wilde. A intensidade dessa relação foi um fator crucial na condenação do autor por homossexualidade.
A mudança para torná-los irmãos é vista como um retrocesso, especialmente considerando a importância de O Retrato de Dorian Gray para a literatura LGBTQIA+. A obra inspirou até mesmo o Dorian Awards, premiação voltada para produções LGBTQIA+.
A decisão da Netflix de alterar a relação para irmãos, em vez de explorar a complexidade original, é comparada a tentativas de minimizar ou apagar a sexualidade de personagens, como as frases “eles eram apenas bons amigos” ou “eles eram colegas de quarto”.
Essa alteração fundamental compromete o potencial da série, tornando-a, possivelmente, a pior adaptação de O Retrato de Dorian Gray até o momento, ao desviar drasticamente do material de origem.
Adaptação da Netflix segue tendência de apagamento queer
A série da Netflix se insere em um contexto preocupante de apagamento queer em produções de Hollywood. Projetos com personagens abertamente LGBTQIA+ são cancelados com frequência, e o tropo “bury your gays” (enterre seus gays) persiste.
Relatórios indicam uma diminuição significativa de personagens LGBTQIA+ em séries. Além disso, houve casos de remoção de referências e tramas LGBTQIA+ em produções de grandes estúdios.
O apagamento queer em adaptações de clássicos é especialmente problemático. Obras que abordam temas LGBTQIA+ em suas narrativas originais sofrem cortes e minimização de suas representações. Isso ocorre em adaptações de romances como A Cor Púrpura e O Grande Gatsby, além de mitologias e figuras históricas.
Embora a censura não seja novidade, a prevalência atual reflete um retrocesso na representatividade LGBTQIA+. A adaptação de O Retrato de Dorian Gray pela Netflix, por ser uma obra seminal para a comunidade, torna essa mudança ainda mais impactante e controversa.
Fonte: ScreenRant

