O Natal se aproxima, e Milagre na Rua 34 se consolida como o filme clássico ideal para celebrar dezembro. Escrito e dirigido por George Seaton, o longa-metragem perdura há quase um século como um marco americano, tendo sido refilmado duas vezes, embora nenhuma versão tenha alcançado a perfeição do original.
Apesar de ser um reflexo de sua época, Milagre na Rua 34 possui uma perspectiva surpreendentemente atemporal e um humor que envelheceu como vinho. Enquanto muitos filmes natalinos apelam para emoções explícitas, Milagre na Rua 34 é um filme astuto e espirituoso que se mantém firmemente ancorado na realidade.

O filme tem início durante o desfile de Ação de Graças em Nova York, posicionando-o como a transição perfeita entre o outono e a temporada festiva do Natal. Embora o espírito natalino seja um tema central, o filme se distingue por não se basear em interpretações religiosas específicas da data.
O foco recai sobre o Papai Noel e o que ele representa. A trama acompanha Kris, um senhor bondoso que equilibra entusiasmo lúdico com uma retidão desarmante. Contratado de última hora para substituir o Papai Noel no desfile, ele logo assume o posto oficial de Macy’s.
Contudo, como todos ao seu redor descobrem gradualmente, ele é perfeito para o cargo porque acredita ser o verdadeiro Papai Noel. Quando sua sanidade é questionada, seu novo amigo Fred Gailey o defende em tribunal. O roteiro, premiado com um Oscar para George Seaton, é ágil e repleto de diálogos inteligentes.
O filme também evita explorar o potencial sobrenatural de Kris, focando no personagem como um senhor de bom coração, com uma ambiguidade que gradualmente convence os outros personagens e o público. Ao lado de John Payne como Gailey, está Maureen O’Hara interpretando Doris, uma gerente da Macy’s.
Doris, uma mãe solteira que prefere educar sua filha, Susan, com base na lógica em vez da superstição, e sua própria aceitação gradual da fé (não apenas em Kris, mas na ideia de um romance duradouro com Fred) tornam o filme um par digno de outras dinâmicas da época, como em Arsenic and Old Lace.
Um Humor Inteligente Torna Milagre na Rua 34 Divertido

Esse senso de humor atemporal é o verdadeiro cerne de Milagre na Rua 34 e o que o torna tão duradouro até hoje. O filme aborda o impacto do comercialismo com uma irreverência sutil. Kris se torna popular por sua disposição alegre em indicar aos clientes ofertas melhores em outras lojas.
Isso desencadeia uma corrida beneficente entre as diversas lojas de departamento de Nova York. A situação se resolve quando um empresário considera o custo de desmascarar Kris como uma fraude — percebendo o impacto que Kris teve nas crianças. O filme critica a apropriação financeira da temporada, algo que persiste hoje, mas com bom humor e um coração imenso.
O filme também oferece um olhar surpreendentemente sutil sobre saúde mental. Um dos poucos antagonistas é Granville Sawyer, o psicólogo da Macy’s que acredita que as “delírios” de Kris o tornam um perigo. Sua visão rígida sobre perspectivas alternativas e leituras superficiais das generalidades das pessoas é retratada como um problema genuíno.
Embora hoje tenhamos um entendimento melhor sobre saúde mental, o foco de Milagre na Rua 34 na importância da bondade, generosidade e amizade ainda ressoa. Isso não significa que o filme seja excessivamente doce. Há uma camada de autoconsciência em toda a obra, com mais atenção às questões práticas do que ao espírito natalino.
O filme não aborda os hábitos egoístas subjacentes das pessoas. O sistema judicial que julga Kris está mais focado nas eleições futuras do que em servir o estado de Nova York. Mesmo a conclusão triunfante no tribunal decorre de dois indivíduos que ouvem sobre o caso e decidem introduzir um pouco de caos na situação.
Ao longo de tudo, há muitas piadas excelentes, reviravoltas inteligentes e até algumas reviravoltas emocionais genuínas que mantêm o filme profundamente tocante. É fofo, engraçado e surpreendentemente moderno em sua perspectiva social. Quase oitenta anos depois, Milagre na Rua 34 é a maneira perfeita, autoconsciente, espirituosa e, finalmente, doce de iniciar a temporada de filmes natalinos.
Fonte: ScreenRant