Um bom filme de artes marciais não estaria completo sem um vilão memorável. É por essa razão que muitos dos maiores filmes do gênero apresentaram um antagonista marcante para o herói enfrentar. Isso se aplica a clássicos como O Tigre e o Dragão e ao filme frequentemente aclamado como o melhor do gênero, O Voo do Dragão.
Em alguns casos, o vilão serve apenas como um oponente físico para o herói, sem ser o pilar da jornada do protagonista. Assim, embora Colt (Chuck Norris) em O Voo do Dragão tenha um lugar importante na história do cinema de artes marciais, ele é lembrado mais como a força que proporcionou a maior luta de Bruce Lee do que como um vilão cativante.
Por outro lado, outros filmes de artes marciais investiram em vilões com personalidades desenvolvidas, peculiaridades e objetivos ambiciosos que os definem. Sem eles, seus filmes não seriam as obras-primas que são hoje.
John Kreese – Karatê Kid
Apesar de não ser o principal oponente em Karatê Kid, John Kreese (Martin Kove) é o verdadeiro vilão da história. Afinal, sua má influência sobre Johnny Lawrence e seus capangas os transforma nos valentões de Daniel LaRusso. Em essência, Kreese é a antítese de tudo o que o Sr. Miyagi representa, com sua filosofia de artes marciais bem representada pelo slogan icônico: “Ataque primeiro. Ataque com força. Sem piedade“.
O passado militar de Kreese e sua persona de “durão” o tornam um molde apropriado para os alunos do dojo Cobra Kai. Essa noção é refletida em algumas de suas melhores falas, ditas com arrogância e desprezo por aqueles mais fracos. E embora Kreese seja frio, ele nunca parece caricato no primeiro filme, pois suas ideias são baseadas em crenças muito reais sobre luta e sobrevivência.
Tong Po – Kickboxer
O segundo melhor vilão nos filmes de Jean-Claude Van Damme, Tong Po (Michael Qissi) foi o artista marcial tailandês cuja surra brutal no irmão do herói preparou uma das melhores sequências de treinamento de artes marciais de todos os tempos, além de uma luta de alto nível de Van Damme. Tong Po personifica os piores traços de um lutador com sua crueldade, trapaças e disposição para fazer o que for preciso para vencer, não importa quão horrível seja o ato.
A coreografia e o talento real em artes marciais de Qissi em Kickboxer contribuem muito para torná-lo uma força a ser reconhecida. Mais do que um brutamontes, Tong Po demonstra uma excelente amplitude de movimento com seus golpes, tornando extremamente desafiador para o personagem de Van Damme encontrar uma abertura.
Tung Tak-hiao – Dragões da Justiça
Lançado em 1988, Dragões da Justiça apresenta algumas das melhores coreografias de luta na carreira de Jackie Chan, em grande parte graças ao envolvimento do campeão de artes marciais Benny “The Jet” Urquidez e do veterano ator de vilões de Hong Kong, Yuen Wah. Para seu crédito, Urquidez tem a melhor luta com Chan no filme, mas a vantagem em termos de melhor vilão vai para Yuen Wah.
Yuen Wah construiu sua carreira interpretando antagonistas secundários em filmes de kung fu, mas desta vez, é ele quem se torna a força motriz do conflito. Seu personagem, Tung Tak-hiao, é um gangster esguio e fumante de charuto, muito mais perigoso do que aparenta. Assoprando arrogantemente seu charuto entre os golpes, o personagem de Yuen Wah exala sem esforço confiança e vibrações sinistras.
Han – Operação Dragão
Bruce Lee raramente cede o holofote em seus filmes de kung fu, tornando difícil para a maioria dos personagens de seus filmes deixarem impressões duradouras. Uma exceção é Han (Shih Kien), o principal antagonista de Operação Dragão (1973) e o anfitrião do torneio de artes marciais frequentado pelos três personagens principais.
Shih Kien, que tinha talento para interpretar vilões inescrupulosos em filmes de kung fu da velha guarda nas décadas de 1970 e 1980, faz uma ótima atuação aqui como Han, mesmo que ele não seja um adversário físico para Bruce Lee. Mas o que lhe falta em poder bruto, ele compensa com sua astúcia, como visto no final, onde ele usa a sala de espelhos e sua mão de faca para superar o herói.
O Assassino Fantasma – O Mistério do Boxe Chinês
O Mistério do Boxe Chinês é uma entrada intrigante no subgênero de filmes de kung fu da velha guarda, se não por outro motivo senão a singularidade do vilão da comédia de artes marciais, O Assassino Fantasma. No clássico cult de 1979, somos informados de que o Assassino Fantasma é um mestre de artes marciais que sofreu uma tentativa de assassinato orquestrada pelos líderes de vários clãs que deveriam ser organizações justas.
Em retaliação, o Assassino Fantasma está meticulosa e impiedosamente buscando e matando cada um deles. Estranhamente, vilão ou não, o Assassino Fantasma é um personagem para o qual você pode facilmente torcer enquanto ele trabalha para obter sua vingança, com seus motivos sendo mais razoáveis do que os da maioria de seus contemporâneos.
Shang Tsung – Mortal Kombat
Facilmente uma das melhores partes do filme original de Mortal Kombat é a performance do falecido Cary-Hiroyuki Tagawa. Na adaptação do videogame de 1995, Tagawa interpreta o feiticeiro maligno conhecido como Shang Tsung, trazendo uma gravidade sinistra, mas também camp, ao papel, o que torna suas ações tanto ameaçadoras quanto divertidas de assistir ao mesmo tempo.
Shang Tsung impressiona ao longo de Mortal Kombat, seja com seus movimentos de artes marciais que quebram ossos, seu uso mortal de magia ou sua entrega de falas digna de supervilão como “sua alma é minha“.
Chong Li – Kickboxer
É difícil encontrar um ator de artes marciais com uma presença mais intimidadora do que Bolo Yeung, que famosamente teve papéis em filmes como Operação Dragão e uma série de filmes de kung fu. Com sua estrutura corpulenta e olhar perverso, Bolo Yeung era o encaixe perfeito para o papel do campeão do torneio subterrâneo que o Frank Dux de Jean-Claude Van Damme tem que derrotar em Kickboxer (1988).
Para o vilão principal de um filme, Chong Li não tem muitas falas, mas a falta de diálogo, na verdade, combina com a interpretação do personagem por Bolo Yeung. Suas expressões faciais transmitem um prazer distorcido na dor que ele inflige aos seus oponentes, com suas táticas desleais na batalha final e brutalidade sublinhando o quão verdadeiramente maligno ele é.
Fung Sheng Wu Chi – Mestre da Guillotina Voadora
Na sequência de 1976 de O Boxeador de Um Braço Só, o herói de Jimmy Wang Yu tem que enfrentar o mestre de artes marciais de dois dos vilões que ele matou no filme original. Interpretado por Kam Kong, Fung Sheng Wu Chi de Mestre da Guillotina Voadora é um assassino cego disfarçado de monge tibetano. Como o título sugere, sua arma característica é “a guilhotina voadora”, uma arma projetada para decapitar pessoas à distância.
A guilhotina voadora não era original do personagem de Kam Kong, mas ele é facilmente o detentor mais memorável da arma; Mestre da Guillotina Voadora aproveita ao máximo a natureza grotesca desse método de assassinato em particular, criando sequências sangrentas e tensas onde ele remove as cabeças de seus inimigos percebidos.
Jimmy Wang Yu pode tecnicamente ser a estrela do clássico de kung fu, mas Kam Kong rouba a cena do início ao fim com a postura séria de seu personagem e o desejo singular de matar o Boxeador de Um Braço Só. Tornando suas cenas ainda mais arrepiantes é a decisão de dar ao personagem seu próprio tema musical. Quando ele toca, é quase certo que alguém perderá a cabeça.
Thunderleg – O Mestre Invencível
O Mestre Invencível é, sem dúvida, um dos maiores filmes de artes marciais já feitos. E embora Jackie Chan naturalmente tenha muito a ver com sua reputação, ele sozinho não o tornou uma obra-prima das artes marciais. Uma parte importante de seu legado se deve ao ator coreano de artes marciais Hwang Jang Lee, que interpretou o vilão principal, Thunderleg.
A experiência real de Hwang Jang Lee em Taekwondo permite que ele exiba chutes impressionantes em seus filmes. Provavelmente o maior dos “superkickers” no gênero de filmes de artes marciais, Hwang Jang Lee utiliza suas habilidades com perfeição em O Mestre Invencível, permitindo que seu personagem se apresente como um verdadeiro mestre marcial, o que, por sua vez, justifica o alto nível de treinamento que o personagem de Jackie Chan tem que passar para derrotá-lo.
Claro, o personagem de Hwang Jang Lee oferece mais do que apenas habilidade de luta pura; o assassino profissional também é um excelente provocador, soltando ótimas falas como “Vou quebrar todos os ossos do seu corpo e enviá-lo para o inferno!” e “A julgar por você, o kung fu do seu pai é uma porcaria. Eu não pediria a ele para limpar a m*** da minha bunda. E talvez seja melhor você me chamar de pai.“
Pai Mei/Lótus Branco – Executores de Shaolin, Abade de Shaolin, Clã do Lótus Branco
Um dos personagens mais icônicos do cinema de kung fu da velha guarda nasceu quando Lo Lieh apareceu como o principal vilão no sucesso da Shaw Brothers de 1977, Executores de Shaolin. Graças à maquiagem, o ator de 38 anos foi transformado no velho mestre de kung fu de cabelos brancos conhecido como Pai Mei. No filme, foi revelado que Pai Mei era quase invencível, tendo desenvolvido um controle tão incrível sobre seu corpo que nem seus olhos e virilha podiam ser feridos.
A performance de Lo Lieh como o vilão aparentemente invencível foi bem recebida no lançamento, levando o ator a reprisar o papel em Abade de Shaolin (1979). Um ano depois, ele interpretou essencialmente o mesmo personagem novamente em Clã do Lótus Branco, embora com um nome diferente, Sacerdote Lótus Branco, e foi apresentado como colega de classe de Pai Mei.
Lo Lieh é facilmente o destaque em todos os três filmes. Há uma nonchalance na maioria de suas cenas de luta que reflete sua confiança inabalável em suas habilidades. Ele não tem medo de que alguém possa machucá-lo, e quando ele anda casualmente durante o combate e evita contato visual, o ator transmite efetivamente a noção de que Lótus Branco nem sequer leva seus inimigos a sério – porque ele não precisa.
Isso também é deixado claro através do diálogo. As trocas espirituosas entre o vilão e os heróis de seus respectivos filmes nunca decepcionam, com o Sacerdote Lótus Branco e Pai Mei soltando alguns insultos ótimos antes e depois de uma luta. Lo Lieh torna suas performances ainda mais divertidas com suas risadas malignas e sorrisos satisfeitos com as falhas de seus oponentes.
Considerando tudo, o Pai Mei/Lótus Branco de Lo Lieh personifica o que um vilão de filme de artes marciais deve ser.
Fonte: ScreenRant
