Após uma nova maratona da aclamada série Mad Men, o personagem Don Draper, interpretado por Jon Hamm, revela uma faceta ainda mais complexa. A produção, que narra a vida de um executivo de publicidade nos anos 60, é amplamente considerada uma das melhores de todos os tempos, mantendo uma qualidade consistente ao longo de suas sete temporadas.
Apesar do reconhecimento crítico, a série não está isenta de debates. Algumas críticas válidas apontam para a coincidência entre eventos fictícios e históricos, além de questionamentos sobre o nepotismo na escalação de Glen Bishop, filho do criador. Inicialmente, a trama que explorava o passado de Don como Dick Whitman parecia um desvio desnecessário, tirando foco das dinâmicas de escritório que cativavam o público.
Essa relutância em aceitar a história de origem de Don Draper era compartilhada por muitos fãs, que a viam como um artifício mais eficaz em uma apresentação do que na execução. No entanto, uma nova apreciação da série demonstra que o passado de Don é, na verdade, um elemento dramático crucial que aprofunda sua complexidade.

A série revelou que Don Draper, o sofisticado executivo, vivia uma farsa. Seu nome de batismo era Dick Whitman, e ele cresceu em condições precárias no Illinois, em um ambiente hostil. Após servir na Guerra da Coreia e sofrer um grave acidente, ele assumiu a identidade de seu comandante falecido, Donald Draper, abandonando seu passado.
Em um primeiro momento, essa origem dramática parecia excessivamente melodramática e destoante do tom realista da série. Contudo, uma nova visualização de Mad Men mudou essa perspectiva. A história de Whitman adiciona camadas de profundidade a Don, fortalecendo a atuação de Jon Hamm.

A reexibição de Mad Men permitiu redescobrir detalhes sutis e reviver o impacto emocional de outros personagens, como Lane Pryce. A percepção sobre o passado de Don se solidificou: ele não é apenas um anti-herói complexo, mas um indivíduo cujas ações adultas são moldadas por traumas infantis.
Um Don Draper que fosse apenas um homem infiel e egoísta teria um apelo limitado. Ao introduzir seu histórico de sofrimento, Mad Men conferiu uma camada de empatia a uma figura moralmente ambígua, explicando suas motivações e comportamentos.
A origem de Don explica sua complexidade como personagem

Comparado a outros anti-heróis da televisão, como Walter White ou Tony Soprano, Don Draper se destaca pela ausência de violência explícita em seu cotidiano. Sua jornada, no entanto, é igualmente cativante, e sua história de origem é o fator determinante para essa profundidade.
O conhecimento de sua infância de dificuldades e traumas explica o estilo de vida decadente, excessivo e moralmente questionável que ele leva na vida adulta. Uma representação simplista de um playboy beberrão e infiel rapidamente se tornaria vazia; as feridas psicológicas de Don, ao contrário, fornecem um contexto convincente para suas ações.
O passado de Dick Whitman impede a conexão de Don com os filhos

A história de Don como Dick Whitman também explica sua dificuldade em se conectar com seus próprios filhos. Crescendo em um lar privilegiado, seus filhos desfrutam de segurança financeira, algo distante da realidade de Don. Essa desconexão se torna evidente quando ele os leva para sua antiga casa, onde eles mal conseguem conceber tal existência, percebendo a distância que os separa do pai.

A luta de Don com sua própria identidade é um dos temas centrais de Mad Men. Em uma cena marcante, um fotógrafo sugere que ele “seja ele mesmo”, um pedido simples que desencadeia uma crise em Don, pois sua vida inteira é uma construção baseada em uma mentira.
Fonte: ScreenRant