Leitores de Mary Shelley podem se surpreender com a adaptação de Guillermo Del Toro para Frankenstein, que apresenta um final significativamente mais otimista que o romance original de 1818.
A Luta pelo Final
O cineasta revelou em entrevista que defender seu final mais esperançoso não foi uma tarefa fácil, exigindo argumentação com seu parceiro de produção. A principal divergência girava em torno de uma cena crucial para transmitir a mensagem positiva que Del Toro almejava.
“Eu sabia que queria que a Criatura tivesse seu único ato como humano”, explicou o diretor vencedor do Oscar. “Ou seja, ele reage ao amor com amor, e ao ódio com ódio.”
Diferenças Cruciais com o Livro
No livro de Shelley, a Criatura encontra o navio de Victor Frankenstein após a morte de seu criador. Na versão de Del Toro, a Criatura (Jacob Elordi) chega a tempo de um último momento com Victor (Oscar Isaac), um encontro que o diretor descreve como “o momento em que eles se tornam humanos um para o outro”.
Enquanto o livro termina com a Criatura decidindo se jogar em uma pira após encontrar seu criador morto, o filme o mostra resgatando o navio e seus homens do gelo, impulsionado por sua recém-descoberta humanidade.
“Porque você está empurrando o navio e olhando para ele por um segundo, isso ganhou muito mais peso, eu pensei. É uma libertação. E acho que essa é a diferença com o livro. Isso termina com uma nota de esperança possível.”
A Criação da Criatura
A adaptação de Del Toro também se diferencia de outras versões cinematográficas na forma como retrata a montagem da Criatura. Em vez de focar no aspecto macabro, o diretor optou por uma abordagem mais vibrante.
“Quase ninguém mostra a criação do monstro. Todo mundo mostra trovões, e o monstro já está montado. E eu pensei, se você está seguindo um astro do rock, você quer filmar o show”, disse Del Toro.
“Então, em vez de tornar horrível o ato de juntar todas essas coisas de corpos, eu fiz disso uma valsa. Eu fiz disso um concerto alegre e divertido, meio louco. Ele corre pelo laboratório, montando este corpo, pegando esta parte e colocando-a aqui ou ali.”
Recepção e Desempenho
A visão única de Del Toro sobre Frankenstein foi amplamente elogiada pela crítica, alcançando 85% de aprovação no Rotten Tomatoes. O filme, com um orçamento de US$ 120 milhões, está disponível na Netflix após um lançamento limitado nos cinemas.
A crítica do ScreenRant descreve o filme como “uma aula de atmosfera”, impulsionado pelas performances de Elordi e Isaac, embora aponte excesso de duração e ritmo lento em alguns momentos.
Del Toro expressou o desejo de desenvolver sua versão de Frankenstein em 2007. Desde então, o diretor lançou filmes aclamados, como A Forma da Água (2017), que recebeu 13 indicações ao Oscar e venceu quatro, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor.
Fonte: ScreenRant