O gênero de terror passou por diversas transformações ao longo das décadas. Identificar os filmes que impulsionaram essas mudanças é fundamental para entender sua evolução. Desde o cinema mudo até as produções mais recentes, alguns marcos cinematográficos redefiniram o que significava assustar o público.
O Gabinete do Dr. Caligari (1920)

Na década de 1910, o expressionismo alemão começou a explorar o horror, produzindo obras-primas como The Student of Prague (1913). No entanto, foi em 1920 que O Gabinete do Dr. Caligari, dirigido por Robert Wiene, revolucionou o gênero. Com ângulos de câmera distorcidos e um design de produção perturbador, o filme criou uma atmosfera desorientadora que intensificou o medo. A história de um hipnotizador usando um sonâmbulo para cometer assassinatos foi um sucesso estrondoso, popularizando o cinema de horror e influenciando movimentos posteriores como o Film Noir.
O filme abriu caminho para outros clássicos expressionistas, como O Golem (1920) e Nosferatu (1922), e sua estética marcou o cinema de gênero.
Drácula (1931)

Embora Drácula (1931) tenha herdado muito de sua atmosfera visual do expressionismo alemão, o filme de Tod Browning fez algo crucial: popularizou os filmes de monstros da Universal. A contratação do cinegrafista alemão Karl Freund foi fundamental para criar a estética sombria que definiria o gênero.
Antes de Drácula, adaptações como Nosferatu (1922) e filmes sobre Frankenstein já existiam. Contudo, foi com o vampiro de Bela Lugosi que Hollywood demonstrou seu poder em comercializar filmes de horror. Drácula deu início a uma era de ouro para a Universal, com filmes como Frankenstein, A Múmia e O Homem Invisível, consolidando esses personagens no imaginário popular por décadas.
As Mulheres Pecam (Cat People) (1942)

Na época em que os monstros da Universal dominavam as bilheterias, o gênero de horror era frequentemente visto como de baixo nível. Produtores como Val Lewton, porém, buscavam infundir mais profundidade e temas psicológicos em suas produções de baixo orçamento para a RKO Pictures. As Mulheres Pecam (1942), o primeiro desses filmes, foi um sucesso inesperado de crítica e público.
Lewton transformou títulos sugestivos em narrativas envolventes, como também fez em Eu Andei com um Zumbi (1943) e O Homem Leopardo (1943). Seus filmes ofereceram uma abordagem mais sutil e aterrorizante, focando no suspense psicológico em vez de sustos explícitos, provando que o horror poderia ter valor artístico e comercial.
Godzilla (1954)

A Segunda Guerra Mundial mudou a percepção do público sobre o horror, com a realidade superando o medo do sobrenatural. Nesse contexto, filmes com viés de ficção científica e que exploravam os horrores da guerra ganharam força. O Japão respondeu com Gojira (1954), um filme que transcendia os clichês de monstros.
A origem de Godzilla, ligada aos testes nucleares, e sua fúria contra a destruição humana, ressoaram profundamente. O filme não apenas deu início a uma longa franquia, mas também consolidou a fusão entre sci-fi e horror, inspirando filmes de invasão alienígena e paranoia em massa, como O Incrível Exército de Invasores (1956).
Psicose (Psycho) (1960)

Nos anos 60, o interesse por monstros sobrenaturais deu lugar a horrores mais humanos e psicológicos. Alfred Hitchcock, mestre do suspense, entregou em Psicose (1960) um novo tipo de terror: um assassino humano com graves problemas mentais. Inspirado em parte pela figura real de Ed Gein, o filme representou uma mudança radical no gênero.
Psicose foi um divisor de águas, pavimentando o caminho para o surgimento dos filmes slasher nas décadas de 70 e 80, além de histórias mais sombrias sobre serial killers, como em O Massacre da Serra Elétrica (1974). A inovação narrativa e o choque com a revelação de Bates estabeleceram um novo padrão para o horror.
O Exorcista (The Exorcist) (1973)

Em 1973, o terror começou a ganhar reconhecimento crítico e acadêmico. A adaptação do romance de William Peter Blatty por William Friedkin, O Exorcista, foi um fenômeno de bilheteria e aclamação, impulsionando a febre do horror demoníaco que continuaria com filmes como Hellraiser (1987) e, mais recentemente, Invocação do Mal (2013) e Sobrenatural (2010).
O filme fez história ao ser o primeiro de horror a receber uma indicação ao Oscar de Melhor Filme, um marco significativo para o gênero, apesar do reconhecimento formal ainda ser raro. O Exorcista abriu portas para que o horror fosse levado mais a sério pela indústria cinematográfica e pelo público.
Halloween (1978)

Embora Black Christmas (1974) seja considerado o precursor, foi Halloween (1978), de John Carpenter, que de fato popularizou o subgênero slasher, tornando-o o grande fenômeno do final dos anos 70 e 80. O filme estabeleceu as convenções do slasher, incluindo as vítimas jovens e o arquétipo da “Final Girl” que sobrevive.
Halloween também inaugurou o conceito de franquia de horror bem-sucedida, inspirando séries como Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo. A figura do assassino em máscara caçando adolescentes se tornou um ícone cultural, moldando o cinema de terror por duas décadas.
O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs) (1991)

O Exorcista abriu caminho para o reconhecimento do horror, mas foi O Silêncio dos Inocentes (1991) que realmente quebrou barreiras. O filme de Jonathan Demme se tornou um dos únicos três na história do cinema a vencer os cinco principais Oscars: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Roteiro.
Essa conquista monumental elevou o gênero a um patamar inédito de prestígio. O filme também gerou uma franquia duradoura com sequências, prelúdios e séries, consolidando Hannibal Lecter e Clarice Starling como ícones do suspense e tornando o terror um fenômeno mainstream.
Pânico (Scream) (1996)

Nos anos 90, o gênero de terror enfrentava um declínio, com o subgênero slasher perdendo força. Wes Craven, após experimentar com metalinguagem em O Novo Pesadelo de Freddy Krueger (1994), encontrou o sucesso com Pânico (1996), escrito por Kevin Williamson. O filme trouxe personagens cientes das convenções do horror, adicionando um toque de humor e autoconsciência.
Pânico foi um sucesso estrondoso, revitalizando o slasher e influenciando inúmeros filmes que seguiram essa linha metalinguística. Craven criou um novo subgênero que continua relevante, provando que o terror podia ser ao mesmo tempo assustador e inteligente.
A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project) (1999)

O estilo de filmagem found footage (gravação encontrada) existia há décadas, mas foi A Bruxa de Blair (1999) que o popularizou massivamente. O filme provou que era possível criar um horror imersivo e eficaz com um orçamento mínimo, abrindo as portas para franquias de sucesso como Atividade Paranormal.
O grande trunfo de A Bruxa de Blair, no entanto, foi sua campanha de marketing inovadora. Ao apresentar o filme como uma história real e não ficcional, os cineastas criaram um burburinho sem precedentes e atraíram multidões aos cinemas. Essa tática de promoção online moldou a forma como filmes de terror seriam divulgados, marcando um ponto de virada na relação entre o público e a mídia.
Fonte: ScreenRant