A série da BBC, Sherlock, tinha o potencial de ser a melhor adaptação moderna de Sherlock Holmes, mas cometeu erros cruciais nas duas últimas temporadas que comprometeram sua qualidade. Criada por Steven Moffat e Mark Gatiss, a produção adaptou as histórias clássicas de Sir Arthur Conan Doyle para um contexto contemporâneo, conquistando o público em suas primeiras temporadas.






No entanto, Sherlock enfrentou uma queda drástica de qualidade, e existem maneiras pelas quais a série poderia ter sido salva, focando em seus pontos fortes e corrigindo falhas narrativas.
O Potencial de Molly Hooper
Um dos acertos iniciais foi a criação de personagens originais, como Molly Hooper (Louise Brealey), uma especialista em patologia com uma paixão não correspondida por Sherlock. Nas primeiras temporadas, a dinâmica entre eles era sutil, com Sherlock ignorando os sentimentos de Molly. Após sua aparente morte e ressurreição, Molly foi subutilizada, aparecendo apenas para reafirmar seus sentimentos.
Uma exploração mais profunda da relação entre Sherlock e Molly, aproveitando a inteligência e bondade dela, poderia ter adicionado uma camada emocional valiosa à série, oferecendo um contraste interessante e uma dinâmica alternativa ao relacionamento com Watson.
Exagero nas Habilidades Dedutivas de Sherlock
As habilidades dedutivas de Sherlock Holmes sempre foram um dos pilares da franquia. Em Sherlock, essa característica foi um dos elementos mais atraentes nas temporadas iniciais, permitindo que o público acompanhasse o raciocínio do detetive. Contudo, nas temporadas 3 e 4, essas habilidades se tornaram exageradas e implausíveis, com Sherlock deduzindo informações impossíveis a partir de detalhes mínimos.
Esse excesso desumanizou o personagem e tornou suas deduções difíceis de acreditar, afastando o público e removendo a sutileza que funcionava tão bem anteriormente.
Inclinação Excessiva para o Humor
Embora Sherlock nunca tenha sido uma comédia, as temporadas finais inclinaram-se mais para o gênero humorístico. Momentos cômicos nas primeiras temporadas surgiam naturalmente das interações e personalidades dos personagens. Em contraste, as temporadas 3 e 4 introduziram piadas forçadas e fora de contexto, que pareciam tentativas de distrair das falhas da trama.
A série não necessitava de um aumento no humor, especialmente quando outros aspectos narrativos precisavam de atenção. Esses momentos cômicos acabaram por parecer deslocados.
Alterações Desnecessárias em Mary Morstan
A introdução de Mary Morstan (Amanda Abbington) em Sherlock, logo após o retorno de Holmes, foi uma surpresa, mas as mudanças feitas em sua caracterização foram um erro. Em vez de retratá-la como uma aliada e apoio para Watson, como nos livros, a série a transformou em uma ex-espiã com um passado complicado.
Essa abordagem adicionou complexidade desnecessária à trama das temporadas 3 e 4 e alterou uma personagem que poderia ter funcionado de maneira mais direta e eficaz, sem a necessidade de reviravoltas em seu passado.
A Persistência de Moriarty
Jim Moriarty (Andrew Scott) foi o grande vilão das temporadas 1 e 2, culminando em sua morte no final da segunda temporada. No entanto, a série relutou em deixá-lo ir, reintroduzindo-o em sonhos e alucinações, e até mesmo sugerindo um retorno em flashbacks na quarta temporada. Essa insistência em trazer de volta um personagem morto enfraqueceu o impacto de sua despedida.
A história de Moriarty deveria ter terminado de forma definitiva, abrindo espaço para novos antagonistas e arcos narrativos.
Falta de um Novo Vilão Marcante
A dificuldade em superar a ausência de Moriarty levou a Sherlock a ter vilões secundários e esquecíveis nas temporadas posteriores. A série desperdiçou oportunidades com personagens como Sebastian Moran, que nos livros é descrito como “o segundo homem mais perigoso de Londres”. Moran poderia ter se tornado o próximo grande antagonista, mas foi relegado a um papel menor.
A ausência de um vilão forte e memorável após Moriarty contribuiu significativamente para a perda de fôlego da série.
Abandono do Gênero de Mistério
Um dos maiores equívocos de Sherlock foi a mudança de foco, de um show de mistério para um drama mais pessoal. Após o retorno de Holmes, a série passou a priorizar as lutas internas dos personagens e seus relacionamentos, em detrimento da resolução de crimes. Essa alteração diluiu a essência da série, que era a investigação e a dinâmica entre Holmes e Watson.
Se Sherlock tivesse mantido seu foco original nas investigações e na dupla de detetives, sua trajetória teria sido mais consistente e satisfatória.
A Não Explicação da Falsa Morte de Sherlock
Talvez o maior erro da série tenha sido não fornecer uma explicação clara sobre como Sherlock Holmes forjou sua própria morte. Após o aparente suicídio de Moriarty, Holmes precisou simular sua própria morte para se proteger, mas a maneira como isso foi executado permaneceu um mistério para Watson e o público. A série optou por ironizar as teorias dos fãs em vez de oferecer uma solução concreta.
A falta de uma explicação oficial para um evento tão crucial deixou uma lacuna narrativa e frustrou muitos espectadores, minando a credibilidade de um dos momentos mais importantes da série.
A Introdução de Eurus Holmes
A introdução de Eurus Holmes (Sian Brooke), a terceira irmã Holmes, na quarta temporada foi uma das decisões mais controversas. Eurus foi apresentada como uma mente criminosa genial, mas sua existência e planos foram considerados sem sentido e desnecessários pela crítica. Em vez de fortalecer a narrativa, Eurus adicionou uma camada de complicação forçada.
Uma opção melhor teria sido introduzir um novo vilão mais alinhado com o tom da série ou desenvolver melhor os antagonistas já existentes, em vez de criar uma personagem que não se encaixou organicamente na trama.
Fonte: ScreenRant