O terror, gênero muitas vezes associado a sustos e sangue, também pode ser um poderoso veículo para discutir temas sociais relevantes. Antes mesmo do boom da cultura ‘woke’, alguns filmes de horror já abordavam questões de gênero, raça e classe de forma notável. Esta lista celebra nove clássicos do terror lançados antes do novo milênio que, mesmo sem usar explicitamente o termo, exibem uma surpreendente consciência social.
Night of the Living Dead (1968), de George A. Romero, é um marco do gênero zumbi e da crítica social. A produção independente, com orçamento reduzido, ousou mostrar a luta pela sobrevivência numa sociedade fragmentada por meio de um grupo de sobreviventes que enfrenta um apocalipse zumbi.

O filme, além de sua estética inovadora, retrata temas raciais de forma impactante. Duas das vítimas dos zumbis são afro-americanos, destacando uma crítica aos estereótipos e à violência racial. O próprio Romero falou sobre a intenção de abordar as tensões raciais da época por meio do horror.
A Força dos Marginalizados
The Exorcist (1973), um marco do terror sobrenatural, não se limita a mostrar o medo do sobrenatural. O filme de William Friedkin explora profundamente a vulnerabilidade de uma família e o impacto da doença mental.
Além disso, a narrativa explora temas religiosos e morais, questionando dogmas e crenças em meio a um cenário de sofrimento e desespero.

Já The Texas Chainsaw Massacre (1974), de Tobe Hooper, utiliza a violência extrema como uma crítica à sociedade americana e suas contradições. O filme, com seu baixo orçamento e estética realista, chocou o público, mostrando a fragilidade da vida e a ameaça que vem não só de monstros, mas também daqueles que supostamente deveriam protegê-los.
O Espelho da Sociedade
Filmes como Alien (1979), de Ridley Scott, além do terror, exploram o medo do desconhecido e a luta pela sobrevivência em um ambiente claustrofóbico. Mas há algo mais: a própria protagonista Ripley, interpretada por Sigourney Weaver, desafia os estereótipos de gênero ao ser uma mulher forte e competente em um mundo de homens.

A década de 1980 trouxe The Thing (1982), de John Carpenter, um filme que não só nos assusta com a possibilidade de algo alienígena e ameaçador entre nós, mas também nos faz refletir sobre a paranoia e a desconfiança que a falta de confiança pode criar. Neste filme, não há heróis perfeitos, apenas sobreviventes lutando contra um inimigo invisível e um medo desconhecido.
Reflexos da Realidade
Candyman (1992), de Bernard Rose, aborda temas sociais complexos como racismo, pobreza e a violência urbana, utilizando a lenda urbana como um símbolo do medo e da repressão social. O filme explora o sofrimento de uma comunidade marginalizada através de uma história de terror sobrenatural.

Scream (1996), de Wes Craven, foi um marco do meta-terror, que além de assustar com seus momentos tensos e assassinos, também brincava com os tropos clássicos do gênero, fazendo uma crítica ácida aos clichês do terror adolescente.
Por fim, Ringu (1998), de Hideo Nakata, e seu terror psicológico sobre uma fita amaldiçoada, é uma obra que reflete sobre o medo do desconhecido e as novas tecnologias da época. O filme japonês transcende o terror, buscando uma narrativa complexa que desafia o espectador a se questionar sobre as implicações das tecnologias e a fragilidade da mente humana.
Conclusão
Estes são apenas alguns exemplos de filmes de terror pré-2000 que, de formas distintas, apresentavam uma complexidade que ia além do simples entretenimento. Eles refletiam, em seus temas e narrativas, as tensões sociais e culturais de sua época, antecipando muitas das discussões sobre inclusão e representatividade que vemos hoje.