O documentário Being Eddie, dirigido por Angus Wall, tem sido alvo de críticas por sua abordagem excessivamente elogiosa em relação a Eddie Murphy. O filme, que explora as contribuições do comediante para a cultura pop, é descrito como um ‘puff piece’ que ignora qualquer aspecto que possa denegrir a imagem da estrela.
Lançado pela Netflix, Being Eddie é o quinto projeto de Murphy com a plataforma desde 2019, levantando suspeitas de que o documentário funcione mais como uma peça de relações públicas do que uma análise aprofundada. A estrutura do filme, com Murphy como figura central e amigos próximos oferecendo lisonjas, reforça essa percepção.
Uma Carreira Sem Paralelos
A carreira de Eddie Murphy é inegavelmente monumental. Críticos como Elvis Mitchell destacam que ele “mudou o mundo”, ao lado de ícones como Michael Jackson, Prince e Whitney Houston. Murphy ingressou no Saturday Night Live aos 19 anos e alcançou o estrelato no cinema com 48 Hrs. aos 21. Sua influência é reconhecida por nomes como Dave Chappelle, Kevin Hart e Chris Rock, que admitem que suas carreiras seriam impossíveis sem o pioneirismo de Murphy.
Apesar do reconhecimento de sua importância histórica, o documentário falha em apresentar uma visão complexa e multifacetada do artista. A obra não aborda o impacto cultural de seu especial Raw, que, apesar do humor inegável, também gerou controvérsias por seu conteúdo homofóbico e sexista.
Omissões e Superficialidade
Os fracassos comerciais de Murphy nos anos 90 e 2010 são minimizados, recontextualizados como reflexos de seu compromisso com a família. A análise se torna hagiográfica pela omissão, recusando-se a apresentar um quadro completo que o título Being Eddie sugere.
O filme menciona superficialmente lutas de Murphy com TOC, paranoia e um relacionamento conturbado com os pais, mas sem aprofundamento. A falta de intimidade e a recusa em explorar aspectos mais controversos de sua vida e carreira deixam o espectador com uma visão incompleta do homem por trás do ícone.
Direção e Advertorialismo
Angus Wall, editor vencedor do Oscar, faz sua estreia na direção de longas-metragens com Being Eddie. No entanto, o filme cai nas armadilhas de documentários ‘softball’ da Netflix. Um segmento sobre sua paternidade, mencionando seus dez filhos com cinco mulheres, levanta questões sobre a objetividade do filme, especialmente ao omitir detalhes como a negação de paternidade e um caso de prisão por solicitação de sexo.
Apesar das críticas, o documentário oferece uma perspectiva valiosa sobre a influência de Murphy. Ele relembra seu desejo de ser “tão engraçado quanto Pryor, tão legal quanto Elvis e tão famoso quanto The Beatles”. Suas imitações e performances em Saturday Night Live, assim como seu papel em Beverly Hills Cop, solidificaram seu status como um ícone.
A Elusividade do Ícone
Murphy utilizou seu prestígio para destacar outros artistas negros em filmes como Boomerang e Harlem Nights. O documentário aponta o racismo na mídia da época, que limitava a percepção do sucesso de comediantes negros. No entanto, a figura de Murphy permanece elusiva.
As reflexões sobre seus papéis em The Nutty Professor e Norbit sugerem um homem que sempre esteve se escondendo, mesmo em suas performances mais extraordinárias. A estabilidade de Murphy, atribuída a um autoconhecimento precoce e à ausência de vícios, é destacada por colegas como Jerry Seinfeld e John Landis. Contudo, a vulnerabilidade parece ser uma barreira que Murphy não cruza, deixando a questão: será que ele pode ser apenas Eddie?
Fonte: ScreenRant