No universo vasto e imprevisível das séries de TV, uma reviravolta de roteiro bem-executada pode elevar uma trama a um patamar lendário. Quem não se lembra do impacto do “Casamento Vermelho” em *Game of Thrones* ou da icônica frase “Eu sou o perigo” de *Breaking Bad*. Esses são momentos que redefinem narrativas e chocam audiências.
No entanto, para cada virada genial, existe uma série de ‘surpresas’ que os fãs viram chegando a quilômetros de distância. Seja por pistas óbvias, escolhas de elenco que entregam demais, ou roteiristas seguindo o caminho mais clichê, algumas reviravoltas de séries previsíveis simplesmente não conseguem enganar ninguém. Um dos exemplos mais notórios de uma reviravolta previsível vem de *Game of Thrones*.
Quando Jon Snow (Kit Harington) ‘morreu’ no final da quinta temporada, o luto entre os fãs foi praticamente inexistente. A sensação era de um truque calculado, um ‘faz de conta’. A própria HBO contribuiu para a falta de surpresa ao manter Harington ativo na turnê de imprensa, e a aparição de Melisandre (Carice Van Houten) em Castle Black pouco antes da sua ‘morte’ praticamente soletrou o que estava por vir.
A sexta temporada, dedicando episódios inteiros ao corpo de Jon, apenas confirmou as suspeitas, tornando seu retorno à vida mais um bocejo do que um choque. A verdadeira reviravolta, talvez, seria se ele tivesse permanecido morto. Outra ‘surpresa’ que se revelou mais frustrante do que surpreendente foi a identidade de Gossip Girl, revelada como Dan Humphrey (Penn Badgley).
Para os fãs atentos de *Gossip Girl*, essa reviravolta não apenas carecia de sentido, mas contradizia abertamente cenas em que Dan estava sozinho e claramente alheio aos eventos da misteriosa blogueira. A teoria de Dan como Gossip Girl já circulava online há anos, mas era frequentemente descartada por sua ilogicidade. Quando a série a abraçou, a reação foi mais de confusão do que de admiração.
A tentativa do final de justificar a escolha parecia uma medida desesperada de última hora, não um desfecho bem construído. Apesar de ter sido elogiada por sua inteligência, a grande reviravolta de *The Good Place* – que o ‘Lugar Bom’ era, na verdade, o ‘Lugar Ruim’ – surpreendeu alguns, mas não os espectadores mais perspicazes. Desde o primeiro episódio, a ‘utopia’ do iogurte congelado e da censura de palavrões parecia artificialmente perfeita.
Fãs no Reddit e observadores de olhos de águia rapidamente captaram as pistas sutis de que algo mais sombrio estava em jogo. A revelação de que os personagens estavam no ‘Lugar Ruim’ o tempo todo funcionou mais como uma confirmação para uma parcela da audiência, do que um choque genuíno. É um exemplo raro de uma reviravolta previsível que ainda assim foi bem-executada e divertida, mas que não enganou ninguém além do terceiro episódio.
*Game of Thrones* conquistou não uma, mas duas vagas em nossa lista de reviravoltas previsíveis que falharam. A ascensão de Bran (Isaac Hempstead Wright) ao trono de Westeros no final da série gerou uma confusão generalizada. Bran passou temporadas inteiras misteriosamente ausente, e sua trama como o Corvo de Três Olhos o tornou um dos personagens menos envolventes emocionalmente.
A decisão de coroá-lo rei pareceu surgir do nada, sem construção narrativa ou justificativa temática. Se os roteiristas planejavam isso, falharam miseravelmente em dar as pistas. Para muitos, foi como se o nome tivesse sido tirado de um chapéu, mais uma tentativa forçada de subverter expectativas do que uma conclusão orgânica e impactante.
Por fim, a conclusão de *How I Met Your Mother* com a morte de Tracy (Cristin Milioti), a mãe titular, para que Ted (Josh Radnor) pudesse terminar com Robin (Cobie Smulders), foi uma das reviravoltas mais universalmente odiadas da TV. A premissa da série era a busca pela mãe, e Tracy, ao surgir, era tudo que os fãs esperavam: inteligente, engraçada e calorosa. No entanto, os roteiristas insistiram em manter a conexão entre Ted e Robin, com o gag da buzina azul e a constante centralização de Robin na narrativa, mesmo quando não fazia sentido.
Os fãs viram isso chegando. Quando os filhos de Ted reviraram os olhos, admitindo que sabiam que a história era sobre Robin desde o início, a reviravolta final não foi chocante, mas sim uma confirmação amarga de um desfecho que muitos já previam e desgostavam. Esses exemplos demonstram que, mesmo com a dificuldade de surpreender uma audiência na era da internet e das teorias de fãs, a chave para uma boa reviravolta ainda reside em sua lógica interna, construção gradual e impacto orgânico.
Quando uma reviravolta é forçada, contraditória ou excessivamente telegrafada, o resultado é menos um ‘choque’ e mais um ‘enquanto isso, no episódio de hoje. ‘ As melhores surpresas são aquelas que, ao serem reveladas, nos fazem exclamar ‘Como eu não percebi antes. ‘, não ‘Eu sabia.
‘.