Escolher o ator certo para um personagem literário nunca é tarefa simples. O público já possui imagens e expectativas bem enraizadas em suas mentes, e qualquer escolha que pareça distante dessas concepções rapidamente se torna alvo de críticas. Agora, imagine essa pressão no universo da fantasia – a intensidade é ainda maior, dado o peso e a rica construção dos mundos e personagens do gênero.
No entanto, quando a escalação acerta em cheio, o sucesso é imediato: o personagem ganha vida, torna-se memorável e pode até mesmo elevar toda a série a outro patamar. É esse tipo de escalação perfeita que transforma uma boa adaptação em algo inesquecível. Ao longo do tempo, inúmeros atores conseguiram capturar a essência de figuras literárias importantes, a ponto de, anos depois, suas atuações se tornarem parte inseparável da história da cultura pop.
Um dos maiores trunfos de assistir a *The Witcher* foi a presença de Henry Cavill. Não apenas por sua impressionante semelhança visual com Geralt de Rívia, mas também por trazer um nível raro de comprometimento a uma adaptação de fantasia. Cavill é um fã declarado dos livros e jogos, e isso transparece em cada detalhe de sua performance, desde o tom de voz até sua postura impecável.
Além disso, ele fez questão de realizar suas próprias cenas de ação, o que ajudou a manter o personagem consistente e crível. Essa dedicação é rara e faz uma diferença real, pois Geralt não é apenas um caçador de monstros; ele é um personagem complexo, cínico e com seu próprio código moral, e Cavill consegue transmitir todas essas camadas. Embora *The Witcher* tenha tido seus pontos fracos e recebido críticas mistas em suas primeiras três temporadas, pouquíssimos (ou nenhum) questionaram se Cavill era a escolha certa para o papel.
A verdade é que seu trabalho garante que Geralt permaneça um dos elementos mais sólidos da série, servindo até como uma âncora quando o roteiro vacila. Essa mistura de carisma contido, fisicalidade convincente e fidelidade ao material original o tornou quase insubstituível – algo que a Netflix, ironicamente, está prestes a testar com sua saída do papel. Quando os filmes de *Percy Jackson e o Ladrão de Raios* foram lançados, a recepção foi longe de ser positiva (especialmente por parte dos fãs).
Até mesmo o autor, Rick Riordan, demonstrou desapontamento com a infidelidade das adaptações aos livros. Assim, quando a série foi anunciada e o elenco revelado, Walker Scobell enfrentou uma pressão enorme: apagar a má impressão deixada pelos filmes e entregar um Percy Jackson que parecesse convincente para uma nova geração. E, no final, ele conseguiu.
Uma clara vantagem foi ter a idade certa para o personagem, o que adicionou autenticidade. Mas, mais importante, ele captura o sarcasmo, a impulsividade e a insegurança de Percy, ao mesmo tempo em que equilibra seu lado heroico com o fato de ainda ser uma criança em crescimento. Na série, fica claro que Scobell não está apenas recitando falas – há uma naturalidade em suas reações e interações com o resto do elenco, fazendo o público acreditar nele como Percy instantaneamente.
Ainda é cedo para cimentar seu legado no papel, já que a segunda temporada não foi ao ar, mas, até agora, é seguro dizer que a escalação perfeita foi certeira. Scobell tem o potencial de deixar uma marca ainda maior e se tornar a face definitiva do semideus. Outra das melhores escalações em séries de fantasia foi a de Jessie Mei Li em *Sombra e Ossos* (*Shadow & Bone*).
Alina Starkov é uma personagem que precisa equilibrar vulnerabilidade e força, e Li entrega essa dualidade com notável consistência. Mesmo com algumas mudanças em relação ao material original para incluir sua origem multirracial, a atriz abraçou a abordagem e a transformou em um pilar para a personagem, adicionando nuances que não estavam presentes nos livros. Ela transmite o peso de uma protagonista carregando enormes expectativas, sem perder o lado humano que a torna tão relacionável.
O desempenho de Li é, de fato, um dos pilares que sustentam *Sombra e Ossos*, especialmente em momentos em que o enredo se arrasta ou perde o foco. Além de ser convincente, seu trabalho é estratégico, mantendo Alina cativante mesmo quando a história ao seu redor não colabora. Ela sabe usar o silêncio, a hesitação e a expressão para comunicar tanto quanto uma fala bem escrita.
Não é surpresa que Leigh Bardugo, a autora da saga, a tenha elogiado, afirmando que ela incorporou perfeitamente a protagonista. Antes do lançamento do filme *Entrevista Com o Vampiro*, havia muita especulação sobre a atuação de Tom Cruise como o vampiro Lestat (especialmente porque a própria Anne Rice estava hesitante). Cruise conseguiu entender o personagem o suficiente para retratá-lo bem.
No entanto, uma vez que os fãs viram Sam Reid no papel, foi em outro nível.