O drama After The Hunt chega aos cinemas neste fim de semana, prometendo uma forte campanha para premiações. Apesar de críticas mistas, o filme tem sido elogiado pelas performances centrais de Andrew Garfield, Ayo Edebiri e Julia Roberts.



Dirigido por Luca Guadagnino, o thriller explora temas urgentes como consentimento, autonomia e dinâmicas de poder no ambiente de trabalho, questões cada vez mais relevantes no cenário atual. O filme mantém essa reflexão até o seu impactante final, que deixa o público com mais perguntas do que respostas.
Embora o roteiro tenha recebido críticas, as atuações principais são amplamente reconhecidas por sustentarem o projeto. A narrativa de After The Hunt é profundamente focada nos personagens, exigindo grande nuance para que a história ambígua se destaque.
Chloë Sevigny em papel secundário

Chloë Sevigny entrega uma atuação sólida em After the Hunt, mas sua personagem, Dra. Kim Sayers, a ligação estudantil da universidade e amiga próxima da protagonista Alma (Julia Roberts), acaba distante demais da trama principal para causar um grande impacto.
A principal dificuldade de Sevigny reside na pouca conexão de sua personagem com os demais. Kim Sayers existe para impulsionar um subtrama específica – a candidatura de Alma à permanência na universidade –, mas tem pouca ligação com o enredo central sobre o suposto assédio sexual sofrido por Maggie e suas ramificações profissionais.
Sevigny demonstra habilidade ao expor a hipocrisia de Kim e a natureza competitiva do mundo acadêmico. No entanto, isso parece irrelevante diante das questões mais prementes da trama. O fato de After The Hunt ter sido fortemente comercializado como um triângulo amoroso distorcido também contribui para o subdesenvolvimento de papéis secundários.
Como apontado em diversas críticas, After The Hunt é uma obra temática, centrada em uma ideia central, o que faz com que o restante pareça secundário. Chloë Sevigny, apesar de aproveitar ao máximo uma personagem um tanto plana, vê seu papel ter um impacto limitado na história.
Ayo Edebiri fora da zona de conforto

After The Hunt apresenta um papel radicalmente diferente para Ayo Edebiri, conhecida por trabalhos cômicos em The Bear, Bottoms e Abbott Elementary. O novo filme de Guadagnino exige um conjunto de habilidades distinto, trocando entregas sarcásticas por uma abordagem mais séria.
Edebiri interpreta Maggie, a estudante em crise que acusa seu professor de assédio sexual após uma festa. Quando os adultos em sua vida tentam impedi-la de expor a história, ela recorre a uma jornalista influente para garantir que o mundo saiba o que aconteceu.
A atuação de Edebiri em After the Hunt é notavelmente forte, profunda e sutil. Ela mantém o público à distância, permitindo que a incerteza sobre a veracidade das acusações de Maggie permeie a narrativa.
Maggie é uma personagem intrinsecamente frustrante. Parece ter passado por um trauma, mas não é concebida para ser simpática ou sequer agradável. Edebiri capta bem as duas facetas de Maggie, embora sua performance não pareça tão carregada ou passional quanto as de outros atores.
Andrew Garfield em performance complexa

Andrew Garfield demonstra em After The Hunt a mesma qualidade de atuação que marcou sua carreira em filmes aclamados. O mais impressionante em sua performance neste drama é a sutileza com que ele evolui ao longo do filme, revelando novas camadas.
Garfield interpreta Hank, um dos professores mais respeitados da universidade e amigo próximo de Alma (Roberts). Ele é um educador talentoso, mas também alguém que não está acostumado a ter seu comportamento galante rejeitado. Sua vida vira de cabeça para baixo quando Maggie o acusa de agressão sexual.
O filme gira em torno da performance de Garfield, mesmo que ele não seja o personagem central. O mistério da história é se há verdade nas alegações de Maggie, e Garfield precisa equilibrar sutilmente culpa e inocência para tornar a narrativa convincente.
Garfield descontrói brilhantemente o ego masculino, mostrando como o orgulho pode se transformar em raiva. Sua transição de um professor refinado para um homem de raiva e privilégio é notável e ajuda a desvendar os temas centrais de After the Hunt.
Michael Stuhlbarg como cola narrativa

O papel de Michael Stuhlbarg em After The Hunt é secundário, mas ele rouba a cena em todos os seus momentos. Sua performance é discreta, longe da intensidade emocional dos protagonistas, mas ele atua como a cola que une toda a história. Sem ele, o comentário do filme sobre confiança e sacrifício seria menos eficaz.
Stuhlbarg interpreta Frederick, o marido de Alma. Um psiquiatra renomado e uma das poucas vozes a se opor ao estilo de vida egocêntrico e, por vezes, narcisista de Alma. O filme levanta questões sobre a capacidade de pessoas privilegiadas em ter empatia, e Alma e Frederick representam extremos opostos desse espectro.
Michael Stuhlbarg sempre entrega performances fortes, sendo um acréscimo inestimável ao elenco de After the Hunt. Seu personagem é a voz da razão no filme, essencial para que a trama não se torne apenas um palco de personagens insuportáveis sem que ninguém seja responsabilizado.
Em sua essência, After the Hunt aborda as desequilibradas dinâmicas de poder entre homens e mulheres, tanto em nível pessoal quanto profissional. Isso se manifesta claramente na relação entre Maggie e Hank, mas o oposto também é evidente no casamento de Alma e Frederick. Stuhlbarg imprime em seu papel uma vulnerabilidade ausente em Hank.
Julia Roberts lidera com complexidade

Um dos motivos pelos quais After the Hunt recebeu críticas severas, e também o que o torna fascinante, é que nenhum dos personagens é minimamente agradável. Todos são figuras complexas, com profundas falhas e imperfeições, que criam o ambiente tóxico que permite a exploração do poder.
Alma, a protagonista interpretada por Julia Roberts, é o exemplo mais claro disso. É uma professora respeitada, cotada para a permanência, mas também uma presença exploradora que se aproveita dos alunos para seu próprio prazer. Sua reação às preocupações de Maggie sobre Hank é, portanto, puramente egoísta.
Roberts captura de forma excelente esse aspecto de autopreservação de Alma, apresentando-a como alguém por quem todos se importam, mas que não se importa com ninguém mais do que consigo mesma. Sua atuação oferece um comentário perspicaz sobre a era #MeToo, enquadrando o movimento social não como uma proteção às vítimas, mas como uma busca por sua vindicação.
Esta é uma das melhores performances de Julia Roberts em anos, e seria uma pena se ela não fosse reconhecida no circuito de premiações. A recepção crítica mista do filme torna improvável uma indicação ao Oscar, mas sua atuação rica e multifacetada certamente merece elogios.
Fonte: ScreenRant