O aguardado retorno de King of the Hill quinze anos após o fim de sua exibição original trouxe uma onda de novos episódios e, com eles, uma mudança muito bem-vinda na forma como Peggy Hill é retratada. Peggy sempre foi uma peça central na estrutura da série original; embora grande parte do enredo se concentrasse na relação entre Hank e Bobby e suas vidas em constante mudança, Peggy estava no coração de tudo com suas próprias esperanças e ambições. Contudo, o que muitas vezes incomodava os espectadores na série original era a maneira excessivamente elevada como ela se via.
A autoconfiança de Peggy, por vezes, beirava o delírio, e isso gerou alguns dos episódios mais memoráveis de King of the Hill. Essa mesma confiança retornou na nova era da série, mas há uma diferença crucial: a forma como os outros personagens reagem a ela. Enquanto na série original ela raramente era confrontada, agora Hank e Bobby têm momentos claros em que resistem às suas vanglórias, adicionando uma camada de realismo e humor à dinâmica familiar.
A 14ª temporada de King of the Hill apresenta Peggy com praticamente o mesmo tipo de personalidade que ela tinha na série original. Ela ainda se gaba de seus sucessos e fala muito bem de si mesma, mas de uma maneira muito menos ostensiva. Por exemplo, agora aposentada, ela deixou para trás seus anos de ensino.
Embora ainda seja vista lustrando seus troféus de “Professora Substituta do Ano” nos novos episódios, ela raramente os menciona em conversas. O mesmo se aplica a outras grandes conquistas, como o Boggle, que ela também não faz questão de abordar na nova era. É quase como se King of the Hill tivesse suavizado as arestas mais grosseiras de Peggy para esta nova fase, mas também não tem medo de expor quando ela está exagerando.
Um dos momentos mais engraçados ocorre logo no início, quando Hank está assistindo a um reboot de *Monsignor Martinez*, e Peggy tenta traduzir (mal) antes que Hank aponte que não apenas o programa tem legendas, mas o que realmente está acontecendo está muito longe do que ela sugeria. Peggy, então, insiste que as próprias legendas é que estavam erradas. Paralelamente, ela estava a caminho de uma aula de Pilates para, supostamente, ensinar a professora como fazer os exercícios.
Peggy ainda mantém os aspectos que a tornaram uma personagem tão inesquecível na King of the Hill original, mas as mudanças ao seu redor fazem muito sentido. Há várias cenas em que tanto Hank quanto Bobby simplesmente concordam com o que ela está dizendo, apesar de claramente discordarem. Como durante o episódio “The Beer Story”, onde ela insiste em sugerir que nomeiem suas cervejas de “Peggy Ale”, os dois apenas a ignoram com um “Uh-huh”.
Mais ainda, Hank a confronta diretamente sobre suas mentiras. Em um momento de maior clareza, Hank desafia Peggy sobre o fato de ela estar mentindo sobre algumas de suas conquistas na Arábia Saudita, e Peggy admite que foi apenas uma pequena mentira “branca”. Isso se transforma em uma discussão maior sobre o fato de Hank não parecer apoiá-la, mas na verdade era apenas um reflexo de quantos anos se passaram entre eles.
É uma mudança que faz sentido para o revival, pois outros personagens naturalmente teriam menos paciência para algumas das atitudes de Peggy, mas a própria Peggy também se acalmou um pouco.
