Em 1975, o mundo foi apresentado a Tubarão, um suspense que não só redefiniu o cinema de verão, mas também solidificou a reputação de Steven Spielberg como um dos maiores contadores de histórias. Situado na pacata cidade litorânea de Amity Island, que se prepara para o feriado de 4 de Julho, o filme rapidamente se transforma em pânico quando um gigantesco tubarão branco surge em suas águas, devorando banhistas. Para deter a matança, o chefe de polícia Martin Brody (Roy Scheider) une forças com o biólogo marinho Matt Hooper (Richard Dreyfuss) e o experiente pescador Quint (Robert Shaw), embarcando em uma tensa batalha em alto mar contra o predador.
O final de Tubarão, criado por Spielberg, diverge significativamente do romance homônimo de Peter Benchley, e essa decisão provou ser um golpe de mestre, fundamental para o sucesso estrondoso do filme e seu status como um marco cinematográfico. O final de Tubarão no livro de Benchley apresenta desfechos muito mais sombrios para os protagonistas. Matt Hooper encontra um fim terrível ao ser devorado pelo tubarão dentro de sua gaiola subaquática.
Quint, movido por uma obsessão implacável, acaba arrastado para as profundezas após se enredar em uma corda de arpão, em uma cena que ecoa o Capitão Ahab. O tubarão, por sua vez, sucumbe à exaustão e aos ferimentos após a longa batalha, afundando lentamente para o fundo do oceano. Em contraste, a versão cinematográfica de Spielberg opta por um clímax dramaticamente diferente e visualmente mais impactante, onde Hooper sobrevive, e o tubarão encontra um destino espetacular e explosivo, cortesia de uma bala de rifle e um tanque de oxigênio.
A decisão de Steven Spielberg de alterar o final de Tubarão gerou debates com Peter Benchley. Enquanto o autor inicialmente considerava a ideia de Brody explodir o tubarão com um tanque de oxigênio como absurda e exagerada, Spielberg defendia que a crença (o “suspension of disbelief”) era muito mais crucial do que o realismo em um contexto cinematográfico. Para o diretor, a narrativa precisava de um clímax que cativasse o público e proporcionasse uma descarga de adrenalina, algo que o desfecho mais contido do livro não conseguiria oferecer na tela grande.
Eventualmente, Benchley reconheceria a genialidade da visão de Spielberg, aceitando que o final proposto era o ideal para a adaptação cinematográfica de Tubarão. Wendy Benchley, viúva do autor, compartilhou em uma entrevista ao ComicBook para o “Jaws @ 50” como seu falecido marido chegou a apoiar o final de Tubarão de Spielberg. Ela explicou que, em um romance, a complexidade é fundamental para a experiência do leitor, enquanto um filme exige uma linha de enredo mais direta e impactante, no formato “A-B-C-D”.
Além do desfecho, Peter Benchley e Spielberg também divergiram sobre o tamanho do tubarão; enquanto na natureza um grande tubarão branco atinge cerca de 4,5 metros, a criatura em Tubarão de Spielberg foi retratada com impressionantes 7,6 metros. Wendy afirmou que Spielberg, com sua genialidade, sabia que precisava de um tubarão maior para “agarrar” o público e realmente infundir medo. A escolha de um tubarão de proporções gigantescas e seu desfecho explosivo foram, sem dúvida, altamente benéficos para Tubarão como filme.
Embora o livro de Benchley retrate o tubarão como uma besta aterrorizante do fundo do mar, a natureza do cinema exige mais do que a imaginação do leitor. Mesmo com Spielberg mantendo o predador fora da tela por grande parte do tempo (devido a problemas com o tubarão mecânico na problemática produção), a criatura precisava aparecer eventualmente. Ao torná-lo fisicamente imponente e ao culminar sua derrota em uma explosão catártica, Spielberg não apenas garantiu um espetáculo cinematográfico inesquecível, mas também entregou um desfecho que ressoa com o público até hoje, solidificando Tubarão como um clássico imortal do suspense e um divisor de águas na história do cinema.